Uma médica brasileira que trabalha nos states me perguntando sobre minha visão do DSM (Código que define critérios diagnósticos para doenças psiquiátricas e neurológicas)
O que ela diz:
Meu desabafo:
Nossa amiga, acho tantas coisas sobre isso! Haha. Concordo muito contigo que faz não nenhum sentido dissociar a cultura local da abordagem utilizada. Mas tb faz parte da nossa cultura nos sentirmos seguros com o que é importado e menosprezamos o nacional, além do aspecto mais global de que todo mudança angustia. E tem muita gente com boas visões e propostas que vejo passar por preconceitos por serem inovadores. As publicações mais freqüentes geralmente são meros levantamento de dados.
Por outro lado, tenho cada vez menos me apegado a CIDs psiquiátricos porque achar que não são uma ferramenta de grande utilidade em geral, com exceção de casos realmente psicóticos ou neurológico. Pro dia a dia me lembra muito o deboche sobre o médico dizendo ao seu paciente "ah, não, para de falar que já te diagnostiquei! Não atrapalha."(risos). Não acho que a medicina tenha ainda tanto conhecimento da neuroquímica e/ou fisiologia para determinar diretrizes ou protocolos para escolha do tratamento de forma rigorosa - o exemplo que ele cita do metilfenidato é ótimo. Acho que serve muito também para estabilizadores do humor.
Acho extraordinário que enfim se tenha encontrado, depois de tanto tempo, uma maneira de compreender melhor essa área tão pouco compreendida e ao mesmo tempo tão significativamente prevalente. Mas não consigo imaginar que a nossa ou mesmo a próxima geração vá conseguir usufruir disso. Especialmente no Brasil. A falta de conhecimento da população sobre saúde é desconcertante. E o preconceito com sintomas psicológico (e mesmo neurológicos) esmagador. Mesmo na população instruída. O livre acesso da indústria farmacêutica definindo "medicações da moda" chega a ser tragicômico. Exemplos simples, brasileiro não usa aspirina para dor; desdenha do Tylenol e é aficcionada por antiinflamatórios - desconhecendo os riscos e mesmo o motivo deste comportamento. Omeprazol e similares passaram a fazer parte inclusive da prescrição MÉDICA como "tratamento" de gastroenterites e mesmo como uso contínuo em pacientes acima de 50 anos (como se fosse Epocler (:p - lembra desse?!?).
A grande maioria da população não tem acesso ao médico - passa uma vez por mês no posto de saúde "para pegar a receita" e adora que funcione assim - dizem veementemente que estão em tratamento - sendo que conversam por 30min a cada 3 meses com seu médico. Dos que podem pagar, muitos se ofendem com o assunto - é preciso de tato em geral para pode se falar sobre ansiedade, talvez tanto quanto sobre drogas ou DSTs.
Bom, depois desse bláblablá todo, agora respondo a tua pergunta!! Sim acho perfeita a tua visão sobre o assunto; mas por outro lado penso que gastar verba para produzir ferramentas nacionais neste momento possa ser desperdício. Concordo que dói ler isto, mas enquanto a população permanecer alienada, desinteressada e mal informada, não vai ser capaz de aproveitar nenhum recurso criado...