quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

As Canalhices de Carpinejar ou Do porquê não xinguei ele

Não é novidade nem segredo que poder sentir-se canalha em uma relação é para o Fabrício uma conquista. Ele descreve os mecanismos de ganho e defende sua postura com argumentos claros e diretos. Diz que perceber a atenção da mulher combinada com sua incapacidade de ir embora é para ele um êxtase.
Em "Matando Carpinejar" ficamos sabendo de detalhes das situações que ele cria repetidamente com a finalidade de se colocar nesta posição. E mais, fica-se conhecendo uma de suas táticas, que é a de ser pêgo, ser visto praticando o ato - que sem a atenção recebida perderia o sentido.
De forma semelhante, uma criança fala de forma pausada, clara e em sutis decibéis acima do usual "mãe, olha o fogo!". "Mãe, olha o fogo" é um livro. Com uma frase a criança resume que quer a atenção da mãe; que esta atenção precisa ser imediata; que se não receber esta atenção imediata ela talvez seja capaz de colocar a mão no fogo; que ela não quer colocar a mão no fogo (pois se quisesse já teria colocado ao invés de criar a cena) e que se receber a atenção imediata que está solicitando irá se sentir amada e se reasegurará de que o amor existente na relação entre os dois é bom e protetor. Então o que parecia um simples apontamento geralmente inconveniente e levemente irritante se mostra rico de estratégia e de propósito.
Pois é exatamente assim que eu entendo as canalhices do autor. Se ele quisesse simplesmente trair ou apenas envaidecer-se ao flertar com umazinha qualquer não daria tanto pano para manga. Como ele mesmo diz isso seria mau caratismo. Mas não, ele quer ser pêgo. Sentir na represália ou ver na fúria dos olhos da amada a reafirmação de um amor bom e protetor. Ele demanda que ela esteja vigil; como garantia de que sobra nela amor suficiente para que valha a pena a vigilância. E a Cinthya não só supre esta demanda, como ainda deixa claro que tem energia amorosa extra, muito além da requisitada, quando faz um inventário detalhado mostrando que estava atenta a ele antes mesmo da cena criada, que notou o exato momento em que o amado iniciou o jogo e que sabe em detalhes tudo o que estava acontecendo. Dedica tempo e talento para ofertar seu carinho de forma concreta. "Ele quer ver fúria? Pois então eu mato ele com requintes de crueldade!".
É uma dança de sincronia apurada que só se vê em casais especiais. Questionar a existência e pôr a prova o amor existente pode parecer insegurança, mas pode também ser visto como um elogio. "Querida, preciso que de tempos em tempos você me reassegure de que sou amado, pois acho você tão fantástica que fico na dúvida se você me ama mesmo" e não é por se achar pouca coisa, como demonstra que a oferta de interessadas continua lá.
Então quando leio uma das crônicas do "Matando" ouço o Fabrício dizendo para a minha amiga a mulher extraordinária que ela é e vejo a Cinthya encontrando cada vez mais dentro de si as habilidades necessárias para estar nesta relação. Em resumo a cada assassinato os vejo mais compatíveis e exercitando/vivendo a paixão que sentem um pelo outro. Por isso não xingo; por isso aplaudo; por isso me alegra ver meus amigos felizes, mesmo que todas as outras pessoas e mesmo a própria Cinthya talvez vejam um problema. Está tudo bem. Vem cá querido, me dá a mão, não toca aí não que tu pode te machucar.
Amo vocês!

2 comentários:

Carpinejar disse...

Fiquei tão emocionado, salvou um piromaníaco. beijo Fabro

Mari disse...

Será? Não sei não... rs
Mas adorei a emoção!
Bjo